A relação da Juventude Rural com as
mídias digitais foi tema central da Roda de Conversa ocorrida nessa
tarde no Píer Mauá. O debate sobre a necessidade de políticas públicas
que garantam aos jovens do campo maior acesso às tecnologias de
informação e comunicação reuniu a assessora de juventude do Gabinete do
Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ana Carolina Silva; a
secretária-adjunta da Secretaria Nacional de Juventude, Ângela
Guimarães; o professor da Universidade Federal Fluminense, Aroldo Magno
de Oliveira; e o coordenador de juventude do Movimento dos Trabalhadores
Sem Terra, Raul de Souza Amorim.
Diante
do êxodo de jovens do meio rural, discutiu-se a importância de
políticas que favoreçam a permanência desse segmento social no campo.
“Campo sustentável é campo com gente, onde se respeita o saber das
comunidades”, afirmou Ana Carolina Silva. Ângela Guimarães defendeu a
importância de enxergar a juventude brasileira de modo plural, na medida
em que os jovens do campo têm demandas diferentes daquelas apresentadas
pela juventude urbana. A própria juventude rural é bastante diversa, já
que se constitui por jovens campesinos, quilombolas, indígenas ou
ribeirinhos, por exemplo. Um dos laços que une esses jovens é a
necessidade de estarem conectados, a fim de produzirem um conteúdo
inovador. Ana Carolina elogiou a atuação crescente da juventude rural
em debates amplos e profícuos nas redes sociais.
Ângela
Guimarães lembrou que, atualmente, o principal meio de informação já
não é mais a televisão, mas a internet, o que gera novas possibilidades
de participação dos jovens em uma comunicação mais horizontal. Para ela,
“não se pode mais pensar nos jovens do campo sem relacioná-los com as
novas tecnologias”. O acesso às tecnologias é essencial para que o
debate da juventude rural no mundo, mas Ângela acredita que a inclusão
dos jovens não pode ser realizada apenas pela presença de equipamentos,
como computadores. É necessário um conjunto de políticas públicas que
levem também a educação, a cultura e o esporte para as áreas rurais.
A
certeza de que os jovens querem produzir uma informação crítica e
inovadora que corresponda às suas demandas e anseios foi consensual no
debate. Raul Amorim, no entanto, criticou as dificuldades ainda
encontradas no campo brasileiro: “O sinal de telefonia mal chega”,
disse. De acordo com o integrante do MST, 94% das escolas rurais ainda
não têm banda larga e 15% não têm sequer energia elétrica. Para Raul, é
importante que os jovens tenham meios de produzir sua própria
representação do campo, negando a estética da pobreza e os padrões da
indústria cultural.
Por isso, Raul
acredita que deve ser facilitado o acesso não só às novas mídias, mas
também a outras formas de comunicação, como as rádios comunitárias, que
ainda enfrentam inúmeros obstáculos burocráticos e legais para
funcionarem e multiplicarem-se. “As rádios comunitárias são cerceadas o
tempo todo”, concordou Aroldo de Oliveira. Os participantes afirmaram a
necessidade de integração do governo com a população e os movimentos
sociais para a construção de um novo modelo de sociedade. Referindo-se
às políticas adotadas pelo governo federal, Aroldo de Oliveira opinou:
“O projeto é louvável e pertinente, mas deve ser desenvolvido de forma
dialógica. Não pode ser uma via de mão única”.
Após
o encerramento do debate, Ângela Guimarães falou sobre a complexidade
das demandas da juventude rural: “São demandas por desenvolvimento
integral, que passa não só pela permanência da sua produção no campo
(por meio do fortalecimento da agricultura familiar), mas também por ter
o que fazer no seu tempo livre, por ter equipamento de esporte, por ter
acesso a novas tecnologias de informação e de comunicação e uma série
de outras dimensões que dizem respeito a sua própria vivência humana”.
Para Ângela, a juventude rural deseja sua permanência no campo, mas por
meio de políticas públicas que levem em consideração a sua realidade
específica.
Fonte: Secretaria Nacional de Juventude, por Camila De' Carli