A renda familiar, a escolaridade dos pais e outros
fatores socioeconômicos explicam 80% da média das escolas com mais de 10
alunos prestando o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Os outros 20%
podem ser creditados ao mérito da própria escola.
Esses resultados foram obtidos pelo pesquisador
Rodrigo Travitzki, doutorando da Faculdade de Educação da USP
(Universidade de São Paulo) ao analisar dados do Enem dos anos 2009 e
2010 para sua pesquisa de doutorado. O objetivo do estudo era saber até
que ponto o ranking de escolas do Enem tem validade como indicador de
qualidade escolar.
“O ranking atual serve mais para as elites do que
para o governo e a sociedade, pois as escolas melhor colocadas são
aquelas cujos alunos tiveram as melhores notas. Mas se a escola recebe
no ensino médio um aluno bom cuja nota da prova também foi boa,
significa que ela manteve a qualidade do aluno ao longo do período`,
diz.
`Entretanto, quando a escola recebe um aluno péssimo,
mas que na prova do Enem consegue um resultado mediano, significa que
ela conseguiu melhorar o aluno ao longo dos anos, fato que atualmente
não é considerado no ranking”, completa o pesquisador, que leciona
Biologia para o ensino médio.
Para Travitzki, o ranking de escolas atual fornecido
pelo Enem pode empobrecer a educação brasileira por dois motivos. “As
escolas começam a se preocupar mais com os bons resultados em testes e
podem começar a esquecer de outros elementos importantes para o
aprendizado, como a inteligência emocional e a capacidade de trabalhar
em grupo, por exemplo. O segundo ponto é que o ranking tende a aumentar
as desigualdades, pois favorece as escolas que tiveram as melhores notas
e prejudica as que tiveram notas ruins.”
A pesquisa está sendo realizada para o
doutorado-sanduíche de Travitzki pela Faculdade de Educação da USP
(Universidade de São Paulo) e pela Universidade de Barcelona, na
Espanha. De abril a agosto de 2012, o pesquisador esteve na universidade
espanhola onde trabalhou com os microdados do Enem coletados por meio
do site do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira). Os dados obtidos após o processo de filtragem são de
cerca de 1 milhão de alunos para cada ano.
Travitzki analisou especificamente o questionário que
os alunos respondem com informações sobre a situação sociocultural e
econômica da família, como renda familiar e escolaridade dos pais, e que
permite identificar o perfil dos participantes. Com base nesta análise,
Travitzki está propondo um outro ranking de escolas para o Enem.
“A ideia é ranquear as escolas com base na nota do
Enem de formas mais justas, equitativas, e informativas. O que eu
proponho é um modo novo de olhar para o ranking”, destaca o professor. A
divulgação do novo ranking deverá ocorrer em março de 2013, quando está
prevista a defesa da tese.
Dentro da ótica do novo ranking, uma escola de
periferia, que ocupa um lugar desfavorável no ranqueamento atual, pode
ser muito melhor conceituada na análise realizada por Travitzki caso
tenha alunos com uma boa pontuação no Enem.
Enem
O Exame Nacional do Ensino Médio foi criado em 1998,
durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com o
objetivo de fornecer uma avaliação do ensino médio brasileiro. Na gestão
do ex-presidente Lula (e que se estende aos dias atuais, na gestão da
presidenta Dilma Rousseff), a nota do Enem passou a ser utilizada para a
conquista de vagas em universidades privadas – via Prouni (Programa
Universidade para Todos) por meio da concessão de bolsas de estudo em
cursos de graduação -, e também na conquista de vagas em universidades
federais brasileiras.
O ranking das escolas é divulgado desde 2006 e é
baseado nas notas dos alunos no exame. A prova é composta por 45
questões de 4 áreas do conhecimento, totalizando 180 questões.
Fonte: Valéria Dias – Da Agência USP de Notícias – UOL Educação
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