Uma escola onde o aluno será protagonista de sua
formação, participando da construção do próprio saber e envolvendo-se
nos processos de aprendizagem. É esta a ambição do Ginásio Experimental
de Novas Tecnologias (GENTE), escola piloto de tempo integral que começa
a ser implementada em 2013 na Rocinha, comunidade da zona sul carioca,
pela Secretaria Municipal de Educação (SME) do Rio de Janeiro.
A primeira unidade do GENTE terá sede na Escola
Municipal André Urani, com capacidade para atender 210 alunos do 7º ao
9º anos. Beatriz Alqueres, gerente de projetos estratégicos da
Secretaria explica que os alunos não serão reunidos por ano seriado, mas
por competências. “O objetivo não é trabalhar por conteúdo, mas com a
construção de habilidades”, diz.
Norteada por um princípio de excelência acadêmica
aliada aos projetos de vida dos alunos, a concepção do GENTE partiu de
estudos feitos com escolas inovadoras internacionais, onde foi possível
observar formas pioneiras nos processos de avaliação, na ambientação
interna, na gestão e formação dos docentes.
Itinerários
Ao ingressar no GENTE todos os alunos passarão por
uma prova diagnóstica para identificar possíveis deficiências ou níveis
diferentes de aprendizagem. Feito o teste, os alunos receberão um
itinerário formativo, com foco nas habilidades e competências que
desenvolverão durante aquele período e pelas quais avançarão. As
avaliações bimestrais serão realizadas por um sistema informatizado,
aplicadas no computador, gerando resultados imediatamente.
Cumprida a grade de atividades básicas, o aluno pode
escolher, segundo seus interesses, quais atividades eletivas quer
realizar, constituindo uma aprendizagem individualizada e personalizada.
Entre as disciplinas eletivas, estão “cineclube”, “construção de blogs
como portfólio”, “inteligência artifical” – em parceria com a
Universidade de Stanford –, “webdesign”, “programação básica” e “os
últimos livros de Shakespeare, em inglês” – esta última viabilizada
graças a uma parceria com a Universidade de Harvard.
Para proporcionar maior eficácia, as aulas valorizam a
transdisciplinaridade, em ambientes amplos e integrados, com projetos
desenvolvidos a partir de uma situação problema ou perguntas dos
próprios alunos. Os professores são polivalentes, atuando em todos os
núcleos do conhecimento. “O professor se torna um arquiteto da
aprendizagem do aluno, disponibilizando recursos no itinerário do
estudante. Seu papel não será o de transmissor, mas daquele que garante a
aprendizagem”, ressalta Beatriz.
Solidários
A ideia é que o professor acompanhe os alunos mais de
perto, tornando-se um tutor a partir das motivações identificadas com
os ideais e projeto de vida elaborado pelo aluno. O efeito é
estratégico. De acordo com Beatriz, “isso aumenta a motivação para se
frequentar a escola, a assiduidade, encontrando mais sentido pela
aplicação prática dos saberes”.
As novas tecnologias serão empregadas como recursos
didáticos para motivar e ampliar o envolvimento dos alunos. Cadernos
serão substituídos por tablets e smartphones, e usados tanto por alunos
quanto professores.
Outro eixo norteador das atividades são o
desenvolvimento das habilidades não cognitivas, tais como a desenvoltura
socioemocional, além da criatividade e da colaboração em grupo. “Num
projeto como esse, o foco é justamente criar cidadãos mais autônomos,
solidários e competentes, capazes de intervir onde vivem com projetos e
estratégias criticas e participativas”, ressalta Beatriz.
Rocinha
“A Rocinha é uma região da cidade com carência de
escolas ginasiais que atendam do 7º ao 9º ano”, observa Beatriz
Alquéres. Com três escolas municipais e um Ciep – Centro Integrado de
Educação Pública –, a Rocinha é a região administrativa da cidade que
tem a população com menor nível de escolaridade entre todas do município
do Rio de Janeiro, segundo estudo realizado pela Fundação Getúlio
Vargas (FGV).
De acordo com Beatriz, o local que abrigará o GENTE
foi um clube esportivo, recentemente desativado, o que também favoreceu a
transformação do espaço em unidade escolar de tempo integral. “Uma área
que é dominada por uma milícia do tráfico vai depender de mil outros
fatores [para mudar], mas também da formação das pessoas daquele
território e da consciência da influência da participação deles na
transformação”.
Território de alta vulnerabilidade social, a Rocinha,
localizada entre os bairros da Gávea e São Conrado, conta atualmente
com 69,3 mil moradores, segundo dados do Censo 2010 do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No dia 13 de novembro de 2011, numa intervenção
integrada entre as forças armadas e as polícias Federal, Civil e
Militar, a comunidade viu serem apreendidas armas e drogas, além de
terem sido detidos suspeitos e criminosos ligados ao narcotráfico.
Conhecida como “Operação Choque de Paz”, um ano
depois a região permanece patrulhada por 700 policiais militares. Embora
a ocupação tenha trazido serviços básicos que antes não chegavam à
comunidade, como água, luz e coleta de lixo, outras solicitações ainda
não foram atendidas, como melhoria no trânsito e tratamento de esgoto.
Fonte: Flávio Aquistapace – Portal Aprendiz

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